PROCURA-SE
UM MENTOR
Para
a maioria ele era o Dr. Enéas Alvarez, advogado, escritor, jornalista,
intelectual, professor universitário e teatrólogo. Para muitos ele era o
museólogo, o historiador, o ex-secretário de cultura. Para uns poucos ele era o
abade, o padre, o bispo, o teólogo. Para mim, era simplesmente meu amigo,
pastor, conselheiro e companheiro de jornada. Aquele a quem eu podia, sempre
que necessário, telefonar ou procurar. Aquele a quem, em ocasiões como de luto,
eu podia buscar somente para chorar. Aquele a quem, em momentos em que as
palavras não resolvem, simplesmente escutava e abençoava.
Conheci
Enéas em 1994. Desde então participamos de inúmeros encontros ecumênicos. Mesmo
quando mudei de cidade continuamos a nos corresponder, a nos telefonar. Nos
últimos oito anos, raros foram os meses em não nos encontramos para um bom
papo. Bem humorado, gostava de uma boa piada. Se fosse de religioso, melhor
ainda. Era acima de tudo amigo. Sabia ouvir. Mas, não se esquivava de dar a sua
opinião. Era ponderado, mas às vezes se exaltava. Arraigado na espiritualidade
oriental, tinha uma devoção especial por Maria, e seguindo seu exemplo, sabia quando
falar e quando silenciar. Meu amigo era ético sem ser moralista.
Bem,
no dia 20 de novembro 2011, meu amigo e mentor fez a sua viagem, a sua
travessia para o outro lado da vida. Partiu como que sorrindo, com a certeza de
haver completado sua jornada terrena. Por isso estou à procura de um novo
mentor, de um novo amigo e companheiro de jornada. Não necessita ser jovem. Meu
último mentor tinha 65 anos quando desta vida partiu. Não precisa ser alguém
que tenha "saúde de ferro". O meu último mentor, tinha diabetes e não
poucas vezes era acometido de tristeza. Não necessita ser alguém que tenha
capacidade de locomoção rápida. O meu último mentor, passou a década passada em
uma cama e uma vez, citando o poeta, disse-me: "Ando devagar porque já
tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais". Não precisa ser
magro. O meu último mentor chegou a pesar mais de 300 quilos. Não
precisa ser abstêmio. O meu último mentor sabia apreciar um bom vinho, e às
vezes, brincava, "ainda que seja carreteiro". Não precisa ser
ascético. O meu último mentor, na juventude, foi rei momo e carnavalesco. Não
precisa ter todas as respostas. Mas é necessário que seja intelectualmente
honesto. Não precisa ser doutor. Mas não deve ser alguém que tenha preguiça de
pensar, ou que use a fé como muleta e, por medo, seja dogmático. Finalmente, eu
diria que meu mentor não precisa ser santo. Mas, tem que ser humano e profundamente
comprometido com a defesa e a promoção dos direitos das minorias. Procura-se um
mentor...
Maruilson
Souza
Nenhum comentário:
Postar um comentário