terça-feira, 25 de setembro de 2012

PROCURA-SE UM MENTOR


PROCURA-SE UM MENTOR

 

Para a maioria ele era o Dr. Enéas Alvarez, advogado, escritor, jornalista, intelectual, professor universitário e teatrólogo. Para muitos ele era o museólogo, o historiador, o ex-secretário de cultura. Para uns poucos ele era o abade, o padre, o bispo, o teólogo. Para mim, era simplesmente meu amigo, pastor, conselheiro e companheiro de jornada. Aquele a quem eu podia, sempre que necessário, telefonar ou procurar. Aquele a quem, em ocasiões como de luto, eu podia buscar somente para chorar. Aquele a quem, em momentos em que as palavras não resolvem, simplesmente escutava e abençoava.  

Conheci Enéas em 1994. Desde então participamos de inúmeros encontros ecumênicos. Mesmo quando mudei de cidade continuamos a nos corresponder, a nos telefonar. Nos últimos oito anos, raros foram os meses em não nos encontramos para um bom papo. Bem humorado, gostava de uma boa piada. Se fosse de religioso, melhor ainda. Era acima de tudo amigo. Sabia ouvir. Mas, não se esquivava de dar a sua opinião. Era ponderado, mas às vezes se exaltava. Arraigado na espiritualidade oriental, tinha uma devoção especial por Maria, e seguindo seu exemplo, sabia quando falar e quando silenciar. Meu amigo era ético sem ser moralista.

Bem, no dia 20 de novembro 2011, meu amigo e mentor fez a sua viagem, a sua travessia para o outro lado da vida. Partiu como que sorrindo, com a certeza de haver completado sua jornada terrena. Por isso estou à procura de um novo mentor, de um novo amigo e companheiro de jornada. Não necessita ser jovem. Meu último mentor tinha 65 anos quando desta vida partiu. Não precisa ser alguém que tenha "saúde de ferro". O meu último mentor, tinha diabetes e não poucas vezes era acometido de tristeza. Não necessita ser alguém que tenha capacidade de locomoção rápida. O meu último mentor, passou a década passada em uma cama e uma vez, citando o poeta, disse-me: "Ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais". Não precisa ser magro. O meu último mentor chegou a pesar mais de 300 quilos. Não precisa ser abstêmio. O meu último mentor sabia apreciar um bom vinho, e às vezes, brincava, "ainda que seja carreteiro". Não precisa ser ascético. O meu último mentor, na juventude, foi rei momo e carnavalesco. Não precisa ter todas as respostas. Mas é necessário que seja intelectualmente honesto. Não precisa ser doutor. Mas não deve ser alguém que tenha preguiça de pensar, ou que use a fé como muleta e, por medo, seja dogmático. Finalmente, eu diria que meu mentor não precisa ser santo. Mas, tem que ser humano e profundamente comprometido com a defesa e a promoção dos direitos das minorias. Procura-se um mentor...

 

Maruilson Souza

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

 COMEMORAR   O   MEDO 
                                                                                                                                              Mia Couto

(Palestra proferida pelo escritor Mia Coutro na Conferência de Estoril 2011).

Bom, nada mais inseguro do que um escritor numa conferência sobre segurança, um escritor que se sente um pouco solitário porque foi o único convidado nesta e na anterior edição... preciso de um abrigo... preciso de um refúgio...
O medo foi um dos meus primeiros mestres. Antes de aprender a ganhar confiança em celestiais criaturas aprendi a temer mostros, fantasmas e  demônios. Os anjos quando chegaram, já era para me guardarem. Os anjos atuavam como uma espécie de agentes de segurança privada das almas. Nem sempre os que me protegiam sabiam da diferença entre sentimento e realidade. Isso acontecia, por exemplo, quando me ensinara a recear os desconhecidos. Na realidade a maior parte da violência contra as crianças sempre foi praticada, não por estranhos, mas por parentes e conhecidos. Os fantasmas que serviam na minha infância reproduziam esse velho engano que estamos mais seguros em ambientes que reconhecemos.
Os meus anjos da guarda tinham a ingenuidade de achar que eu estaria mais protegido apenas por não me aventurar para além da fronteira da minha língua, da minha cultura, do meu território. O medo foi afinal o mestre que mais me fez desaprender. Quando deixei a minha casa natal, uma invisível mão roubava-me a coragem de viver e a audacia de ser eu mesmo. No horizonte vislumbravam-se mais muros do que estrada. Nessa altura algo me sugeria o seguinte: que há nesse mundo mais medo de coisas más do que coisas más propriamente ditas. No Moçambique colonial em que nasci e cresci, a narrativa do medo tinha um invejável casting internacional. Os chineses comiam crianças, os chamados terrorristas que lutavam pela independência e um ateu barbudo com nome alemão. Esses fantasmas tiveram o fim de todos os fantasmas: morreram quando morreu o medo. Os chineses abriram restaurantes à nossa porta, os ditos terroristas são hoje governantes respeitáveis, e Karl Marx, o ateu barbudo, é um simpático avô que não deixou descendência. O preço dessa construção de terror foi, no entanto, trágico para o continente africano. Em nome da luta contra o comunismo cometeram-se as mai indizíveis barbaridades. Em nome da segurança mundial foram colocados e conservador no poder alguns dos ditadores mais sanguinários de toda a história e, a mais grave dessa longa herança de intervenção externa, é a facilidade com que as elites africana continuam a culpar os outros pelos seus próprios fracassos. A guerra fria esfriou. mas o maniqueísmo que a sustinha não desarmou, inventando rapidamente outras geografias do medo a oriente e a ocidente e, por se tratar de entidades demoníacas, não bastam os seculares meios de governação, precisamos de intervenção com legitimidade divina. O que era ideologia passou a ser crença. O que era política tornou-se religião. O que era religião passou a ser estratégia de poder. Para fabricar arma é preciso fabricar inimigos. Para produzir inimigos é imprioso sustentar fantasmas. A manutenção desse alvoroço requr dispendiosos aparato e um batalhã de especialistas que, em segredo, tomam decisões e nosso nome. Eis o que nos dizem: Para superarmos as ameaças domesticas precisamos de mais policia, mais prisões, mais segurança privada e menos privacidade. Para enfrentarmos as ameaças globais precisamos de mais exércitos, mais serviços secretos e a suspensão temporária de nossa cidadania. Todos sabemos que o caminho verdadeiro têm de ser outro. Todos sabemos que esse outro caminho poderia começar, por exemplo, pelo desejo de conhecermos melhor esses que, de um e de outro lado, aprendemos a chamar de "eles".
Aos adversários políticos e militares juntam-se agora o clima, a demografia e as epidemias. O sentimento que se criou é o seguinte: a realidade é perigosa, a natureza é traiçoeira e a humanidade imprevisível. Vivemos como cidadãos e cidadãs e como espécie em permanente situação de emergência. Como em qualquer outro estado de sítio as liberdades indivíduais devem ser contidas, a privacidade pode ser invadida e a racionalidade deve ser suspensa. Todas essas restrições servem para que não sejam feitas perguntas, como por exemplo estas:
  • Por que motivo a crise financeira não atingiu a indústria de armamento?
  • Por que motivo se gastou, apenas no ano passado, um trilhão e meio de dólares em armamento militar?
  • Por que razão os que hoje tentam proteger os civis na Libia são exatamente os que mais armas venderam ao regime do coronel Kadafi?
  • Por que motivo se realiza mais seminários sobre segurança do que sobre jutiça? Se queremos resolver e não discutir a segurança mundial teremos que enfrentar ameaças bem reais e urgentes. Há uma arma de destruição maciça que está sendo usada todos os dias, em todo o mundo, sem que seja preciso o pretexto de guerra, essa arma chama-se FOME!
Em pleno século XXI, um em cada seis seres humano passa fome. O custo para superar  fome mundial seria uma fração muito pequena do que se gasta em armamento. A fome será, se dúvida, a maior causa de insegurança do nosso tempo. Mencionarei ainda uma outra silenciada violência. Em todo o mundo, uma em cada três mulheres, foi ou será, vítima de violência física ou sexual durante o seu tempo de vida. É verdade que sobre uma grande parte do nosso planeta pesa uma condenação antecipda pelo fato simples de serem mulheres. A nossa indignação, porém, é bem menor que o medo. Sem darmos conta fomos convertidos em soldados de um exército sem nome e, como militares sem farda, deixamos de questionar. Deixamos de fazer perguntas e discutir razões. As questõs de ética são esquecidas, porque está provada a barbaridade dos outros e, porque estamos em guerra, não temos que fazer prova de coerência, nem de ética nem de legalidade.
É sintomática que a única construção humana que pode ser vista do espaço seja uma muralha, a Grande Muralha, que foi erguida para proteger a China das guerras e das invasões. A muralha não evitou conflitos nem parou os invasores. Possivelmente morreram mais chineses construindo a muralha do que vitímas das invasões que realmente aconteceram. Diz-se que alguns trabalhadores que morreram foram emparedados na sua própria construção. Esses corpos convertidos em muro e pedra, são uma metáfora do quanto o medo nos pode aprisionar. Há muros que separam nações, há muros que dividem pobres e ricos, mas não há hoje no mundo um muro que separe os que têm dos que não têm medo. Sob as mesmas nuves cinzentas vivemos todos nós, do sul e do norte,  do ocidente e do oriente. Citarei Eduardo Galiano acerca disso, que é o medo global, e dizer: os que trabalham tem medo de perder o emprego; os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho; quando não têm medo da fome têm medo da comida. Os civis têm medo dos militares; os militares têm medo da falta de armas e as armas têm medo da falta de guerras e, se calhar, acrescento agora eu, há quem tenha medo que o medo acabe.
Muito obrigado!
     
     
 
 
 

COMPAIXÃO COM CARA, CHEIRO E NOME

 

Compaixão é uma virtude que acompanha o ser humano desde o inicio do seu processo de humanização e que o ajuda a distinguir-se de outros animais. O termo é de origem latina (compassione) e de difícil explicação, pois pode assumir diferentes significados, sendo facilmente confundido com piedade (capacidade de sentir-se triste com a tristeza dos outros), com pena (capacidade de sentir-se numa condição melhor ou superior à de quem sofre), com solidariedade (capacidade de sentir-se solidus, parte consistente do mesmo corpo), com simpatia (capacidade de sentir-se participante das alegrias, dores e tristezas de outrem) e com empatia (capacidade de meter-se na pele de outro).

Do ponto de vista etimológico pode-se dizer que compaixão significa “paixão com”, podendo ser associada à paixão com que se coloca incondicionalmente ao lado do outro que sofre injustiças, seja ele humano ou animal; do miserável ou rico; do imbecil ou intelectual; do pecador ou santo; do ateu ou religioso. Talvez por isso, o assunto tem estado, por séculos, na agenda dos debates de religiosos e filósofos, tanto da antiguidade quanto da modernidade.

Sócrates (469–399 a.C), por exemplo, que desprezava veementemente o sentimentalismo bufão, associou a compaixão ao desvirtuamento de caráter causado pelo terror, pelo medo e pelo pânico diante de arbitrariedades e perseguições sofridas por outrem, enquanto Aristóteles (384-322 a.C.) a compreendia como positiva quando relacionada com (1) um mal que está destruindo alguém, (2) que não merece está passando por aquilo e (3) igualmente pode atingir a mim. Já Zenão (séc. III a.C.), fundador do estoicismo, defendia ser a compaixão um grande erro moral, pois a apathea, a indiferença à dor, às necessidades, ao sofrimento, aos males e às agruras da própria vida ou de outrem é o ideal da lei racional.  

O filósofo alemão Schopenhauer (1788-1860), geralmente associado ao cinismo e ao pessimismo desvinculava a compaixão (“amor puro”) de qualquer religião e crença e defendia ser ela necessária para enobrecer o caráter do ser humano. Para ele, a compaixão leva à bondade e ao auxilio do seu semelhante, assim como à prática de atos de justiça e de amor ao próximo. Para o igualmente filósofo alemão Max Scheler (1874-1928) a compaixão é a busca por tentar compreender a angustia do outro, enquanto se mantém a consciência de que nada a ela se assemelha.

É certo que filósofos judeus e Cristãos também têm refletido sobre o assunto. Entretanto, polêmicas à parte, suas Escrituras Sagradas apresentam tanto Yahwew quanto Jesus como plenos em compaixão. Eles agem movidos por compaixão. Na verdade é a compaixão que lhes “põem em movimento”, que lhes “vocacionam” a atuar em favor de outros.

No livro do Êxodo, por exemplo, são os gritos do povo sofrido e oprimido que desperta em Yahwew a vocação de libertador (Êxodo 2.23-25; 3.7-18) e nos Evangelhos, é o mendigo-cego Bartimeu (Mateus 20.29-34; Marcos 10.46-52; Lucas 18.35-43) quem, a partir das suas necessidades brada insistentemente provocando em Jesus a liberação de uma ação compassiva que o tira da sua situação humilhante.

Era, portanto, inadimitível para os escritores sagrados pensar em Yahwew e em Jesus como modelos de apatia e indiferença ante o sofrimento humano, como propunham os filósofos estóicos. Tampouco podiam eles defender que as ações de Yahwew e de Jesus fossem movidas por um sentimentalismo causado por pânico ou temor. Ao contrario, os escritores do Antigo e Novo Testamentos testemunham que o agir de Yahwew e de Jesus advém da (com)“paixão” pela justiça, pela verdade, pelo retorno à esperança e ao equilíbrio.

Assim é que as Sagradas Escrituras judaico-cristã apresentam a compaixão tanto de Yahwew quanto de Jesus como modelos para o povo de Deus, visto ser formada por atitudes, decisões e ações realizadas não somente porque uma pessoa ou povo está sendo destruído pelo mal, ou porque um inocente está sofrendo ou ainda por solidariedade (“o mesmo pode acontecer comigo”), mas para que a justiça seja restabelecida, o inocente seja amparado e sinais de esperança sejam percebidos e presenciados.

Desta forma, pode-se afirmar que mesmo não havendo consenso universal, do ponto de vista da teologia cristã a compaixão está conectada com ações. Quer sejam elas espontâneas ou programadas, desde que visem a promoção e a defesa da vida, e a divulgação de valores que estabeleçam a verdade e a justiça.

Assim sendo...

...Onde hinos são entoados, crentes são anestesiados, o individualismo é celebrado, o sucesso buscado e os pobres são desprezados, compaixão tem cara, cheiro e nome, pode chamar-se Karl Marx, entre outros e outras.

...Onde a repressão é geral, a moral é “por debaixo dos panos” e Deus é feito à imagem e semelhança do ser humano, compaixão tem cara, cheiro e nome, pode chamar-se Freud, entre outros e outras.

...Onde as botas e os fuzis impõem o medo, dão toque de recolher, fazem calar, ameaçam, perseguem e torturam, compaixão tem cara, cheiro e nome, pode chamar-se Dietrich Bonhoefer, Oscar Romero ou Helder Câmara, entre outros e outras.

...Onde os direitos humanos são violados, crianças são desrespeitadas, adolescentes abusado(a)s e idosos maltratados e pessoas sendo destratadas por causa da cor da sua pele, compaixão passa a ser ações concretas com cara, cheiro e nome, podendo chamar-se Nelson Mandela, Martin Luther King, entre outros e outras.

...Onde os pobres são mantidos por gerações como “intocáveis”, sem possibilidade de mudanças e quando a fome lhes impede de ter esperança e sonhos por melhores dias, compaixão tem cara, cheiro e nome, pode chamar-se William Booth, Madre Teresa de Calcutá ou Irmã Dulce, entre outros e outras.

...Onde uma nação é invadida, suas manifestações culturais proibidas, a violência normatizada e a incoerência entronizada, compaixão tem cara, cheiro e nome, pode chamar-se Mahatma Ghandi, entre outros e outras.

...Onde a natureza é explorada de forma gananciosa, sem nenhum compromisso com as gerações vindouras, compaixão tem cara, cheiro e nome, tem greve e discurso ainda que feito por um matuto como Chico Mendes, entre outros e outras.

...Onde a fé é confundida com religião, com sentimentalismo barato, com gestos teatrais e com domesticação dos fiéis, mesmo que para isso a manipulação seja aplaudida, a falta de escrúpulos bem vinda e Deus não honrado, compaixão tem cara, cheiro e nome, pode chamar-se René Padilla, Miguez Bonino, Carlos Mesters ou Leonardo Boff, entre outros e outras.

...Onde a hipocrisia é quem manda, o fingimento é quem que reina e a falta do uso da razão é espiritualizada, compaixão tem cara, cheiro e nome, pode chamar-se Rubem Alves, entre outros e outras.

...Onde o analfabetismo é bem visto, o subemprego bem quisto e esse salário mínimo defendido, compaixão tem cara, cheiro e nome, pode chamar-se Darci Ribeiro ou Paulo Freire, entre outros e outras.  

...Onde mulheres são imbecilizadas, violentadas, espancadas e assassinadas, compaixão tem cara, cheiro e nome, pode chamar-se Catherine Booth ou Ivone Gebara, entre outros e outras.

...Onde a classe média tornou-se insensível, os miseráveis passaram a ser invisíveis, a fé é vivida de forma descomprometida e descompromissada com o próximo, compaixão tem cara, cheiro e nome, pode chamar-se Viv Grigg, entre outros e outras.

...Onde... compaixão é qualquer ação realizada em nome e por amor a Cristo, consciente ou inconsciente, espontânea ou não, que de alguma forma tira-nos do comodismo, do individualismo,  do esquizofrenismo, das nossas dores, dos nossos desamores, dissabores e sofrimentos e leva-nos à identificação com o pobre, com o necessitado, com a dor alheia, impulsionando-nos a defender, a promover, a participar e a apoiar ações que visem o bem da coletividade.  

Que o Eterno nos ajude a crescer em compaixão.

 

Maruilson Souza

sábado, 1 de setembro de 2012


SOU FAVORÁVEL À INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA SE...



A questão da internacionalização da Amazônia é algo que não tem saído de pauta nos últimos 30 anos. De vez em quando o assunto volta à tona. A discussão tem envolvido de políticos a diplomatas, de estudantes a intelectuais. Os seus defensores, geralmente dos paises ricos e alguns “pobres” daqui costumam argumentar que a Amazônia é o “pulmão” do mundo e não deve pertencer a um povo especifico, no caso, a nós brasileiros.
Chama-me a atenção que aqueles que querem cuidar das nossas florestas, foram os mesmos que destruíram as suas. Ora se eles não foram capazes de cuidar do que era deles, por que cuidariam do que é nosso? Estariam eles verdadeiramente interessados em cuidar do meio ambiente ou das riquezas?
Há alguns anos atrás, o ex-reitor da Universidade de Brasília, Cristóvão Buarque, foi aos Estados Unidos participar de uma serie de palestras e debates em Universidades americanas. Em uma delas um estudante lhe perguntou se seria a favor da “internacionalização da Amazônia”. Cristóvão lhe respondeu que como intelectual ele era favorável, mas como intelectual e brasileiro certamente que não. Endosso as palavras de Cristóvão. Eu poderia iniciar a pensar na possibilidade de apoiar a internacionalização da Amazônia, desde que pudéssemos:
  1. ...Internacionalizar o salário mínimo: O nosso salário mínimo seria, de preferência, uma média do da Dinamarca, Suécia e Noruega. Nenhum dos nossos aposentados poderia ganhar menos do que um aposentado em um desses países.
  2. ...Internacionalizar o padrão de qualidade de vida: Sugiro uma mistura da qualidade de vida Suíça e Canadense. Menos do que isso seria inaceitável.
  3. ...Internacionalizar o acesso à cultura: O que incluiria desde cinema, teatro, museus, apresentações de balés e orquestras e livros, a preço a que qualquer cidadão pudesse pagar sem lhe fazer falta. Sugiro o padrão finlandês.
  4. ...Internacionalizar o acesso à escola integral e gratuita: Onde as nossas crianças teriam acesso não só ao desenvolvimento intelectual e tecnológico, mas também aos esportes, lazer e uma boa alimentação. Sugiro o padrão americano, com alimentação no padrão francês ou italiano. Com isso não haveria mais crianças de rua e o Programa Fome Zero do governo, perderia a razão de existir.
  5. ...Internacionalizar as nossas favelas: Todos teriam acesso ao saneamento básico e moradias decentes. Nenhum cidadão brasileiro se sentiria envergonhado de dizer onde mora ou levar um estrangeiro à sua casa quando estivesse nos visitando.
  6. ...Internacionalizar o desenvolvimento regional: Regiões que fossem pouco desenvolvidas, como o sertão nordestino, receberia investimentos a fim de que a situação fosse revertida. Sugeriria os mesmos volumes de investimentos que a Comunidades Européia fez em países como Portugal.
  7. ...Internacionalizar os sem tetos: Com essa medida nenhum brasileiro ficaria sem casa própria e de qualidade. Não haveria famílias de ruas, nem pessoas morando em baixo de viadutos.
  8. ...Internacionalizar os sem terra: Todos teriam não só acesso à terra, mas especialmente a financiamentos subsidiados para que nela pudessem produzir. Os valores não deveriam ser inferiores ao que a França e a Inglaterra concedem aos seus agricultores.
  9. ...Internacionalizar a segurança: Com isso poderíamos andar tranqüilos pelas ruas a qualquer hora do dia ou da noite, sem riscos de ser assaltados ou receber uma bala perdida. Sugiro o padrão alemão, ficando decidido que se algum outro país adotar um modelo melhor, será seguido imediatamente.
Sim! Eu poderia iniciar a pensar na possibilidade de apoiar a internacionalização da Amazônia, se tudo isso pudesse acontecer. Como aqueles que defendem a internacionalização querem somente as nossas riquezas mas não os nossos problemas, prefiro permanecer com ambos, pois, se trabalharmos essas questões e cuidarmos desse patrimônio nosso (a Amazônia), o futuro do Brasil será diferente.   


Maruilson Souza