OS
DOIS MUNDOS
No
mundo ideal sou sempre forte e tenho brilho próprio;
No
mundo real às vezes sinto-me fraco, dependente e sem energia.
No
mundo ideal minha alegria é contagiante e meu olhar penetrante;
No
mundo real às vezes minha alegria se esvai e meu olhar enfraquece.
No
mundo ideal sou equilibrado e inteligente;
No
mundo real sou limitado cultural, emocional e intelectualmente.
No
mundo ideal estou sempre cercado de pessoas que admiram-me e respeitam-me;
No
mundo real às vezes sinto-me solitário em meio à multidão e não poucas vezes
preterido, pisado e desrespeitado.
No
mundo ideal vivo sempre alegre e sorridente, não tenho conflitos internos, nem
tampouco problemas externos.
No
mundo real às vezes sinto-me triste, um poço de contradição interna e travo
diariamente uma luta para superar as barreiras externas.
No
mundo ideal tenho saúde de ferro e não me canso nunca;
No
mundo real as enfermidades chegam e os energéticos, ajudam.
No
mundo ideal sou organizado, competente, compreensivo, e tolerante;
No
mundo real não consigo dar conta do que me é imposto, vivo aflito, não
compreendo nem a mesmo a mim e a
impaciência me alcança.
No
mundo ideal sou sempre jovem, sem rugas e sem enfermidades;
No
mundo real as marcam do tempo não perdoam, as doenças me esperam e a morte me
aguarda.
No
mundo ideal sou autoconfiante, independente e livre.
No
mundo real fortaleza e fraqueza em mim coabitam, não faço e nem vou aonde quero
e a minha liberdade vem da
submissão.
No
mundo ideal estou "pronto" e "acabado", sou "modelo
conformado";
No
mundo real sou um sujeito em construção que têm de inventar-se e superar-se a
cada
dia.
No
mundo ideal "deito e logo pego no sono";
No
mundo real ás vezes tenho insônia e levanto de mau humor.
No
mundo ideal não "ando ansioso" e nem me "preocupo com o dia de
amanhã";
No
mundo real às vezes a angustia me domina, o medo do futuro me apavora e é o
lexotan quem me seda, hipnotiza e
tranquiliza.
No
mundo ideal as pessoas são perfeitas, angelicais e não pecam;
No
mundo real as pessoas, todas elas, são humanas, buscam os seus próprios
interesses
e erram, normalmente tentando acertar.
No
mundo ideal "os filhos são herança e benção dos e aos pais", e sempre
os honram e
os respeitam.
No
mundo real não poucas vezes pais são "abrigados" e desonrados, e
filhos
violentados.
No
mundo ideal "os velhos não são desamparados" e pão nunca falta para a
sua
descendência.
No
mundo real idosos são abandonados e desassistidos, e muitas vezes seus
descendentes vivem a ermo e
desprotegidos.
No
mundo ideal fé é um coisa, religião outra.
No
mundo real a confusão é geral, normalmente a primeira é obscurecida pela
segunda.
No
mundo ideal "Deus está lá fora" em algum lugar;
No
mundo real Deus está dentro-fora, aqui-lá, é mistério revelado na
presença-ausência
que a tudo e a todos permeia, move e
ultrapassa.
No
mundo ideal o passado foi maravilhoso, o presente é horroroso e o futuro será
extraordinário;
No
mundo real o passado não mais existe, o futuro ainda não chegou, restando
somente o presente.
No
mundo ideal há dois mundos: o daqui, "ruim" e o de lá,
"bom";
No
mundo real há um só mundo, o daqui, que é bom-ruim, bondoso-maldoso, amoroso-
odioso, mas a variedade de universos
é infinita.
O
mundo ideal é o da ilusão da verdade científica,
objetiva, neutra;
O
mundo real é o da subjetividade e da intersubjetividade, da arte, da busca da
verdade,
das incertezas e das inseguranças.
O
mundo ideal não é real, mas o mundo real contêm, comporta e suporta também o
mundo ideal.
Maruilson
Souza, PhD